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Caso 113 Sul: Delegada Mabel de Faria vira alvo de apuração após inocentação de morador de Novo Gama

A recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que inocentou e libertou Francisco Mairlon Barros Aguiar, após 15 anos de prisão pelo caso conhecido como Crime da 113 Sul, reacendeu debates sobre os métodos utilizados em sua investigação.
Um dos principais focos de questionamento agora é a atuação da delegada aposentada Mabel de Faria, que liderou parte do inquérito e teria induzido réus a mencionar nomes que incriminavam Mairlon.

Durante os interrogatórios de réus confessos, Mabel foi flagrada sugerindo alternativas de narrativa e associando intenções de participação de Mairlon, condutas criticadas no STJ como “coação moral”.
Em vídeos anexados ao processo, a ex-delegada chega a afirmar: “só vai depender do que você disser” — frase que, segundo especialistas jurídicos, demonstra imposição de versão durante o interrogatório.

A defesa de Mairlon, apoiada pela ONG Innocence Project, apresentou gravações em que Mabel e outro interrogador sugerem alterar a versão de “roubo” para “matar e roubar”, alegando que isso influenciaria na pena. Além disso, os depoentes teriam sido pressionados com ameaças veladas sobre a segurança de suas famílias caso não confirmassem a versão desejada.

O STJ entendeu que tais práticas violam princípios constitucionais, como a ampla defesa e o contraditório. As confissões obtidas sob esse tipo de coação não podem embasar condenações, conforme destacou o voto dos ministros.


Quem é Mabel de Faria e seu histórico no caso

Mabel de Faria, ex-delegada da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), foi chefe da antiga divisão Corvida (Crimes contra a Vida). Ao assumir parte da investigação do triplo homicídio da 113 Sul, ela sustentou uma linha única de apuração, incluindo quatro suspeitos, entre eles Mairlon e a arquiteta Adriana Villela.

Durante o julgamento de 2019, no Tribunal do Júri de Brasília, Mabel apresentou declarações e diálogos que teriam sido ditos por Adriana, construindo a hipótese de mando e participação.
Em entrevistas posteriores, chegou a afirmar que as investigações seriam ampliadas, com reconstituições e novos depoimentos, mantendo sua convicção inicial.

Reconhecida por seu histórico de grandes investigações na PCDF, Mabel se aposentou oficialmente em 2018, encerrando uma trajetória marcada por casos de grande repercussão.


Próximos passos: investigação interna e responsabilização

Com a inocentação de Mairlon e a anulação do processo, a atenção agora se volta para uma possível apuração interna das condutas da ex-delegada.
Há expectativa de que a Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público analisem se houve abuso de autoridade, indução ilegal de confissões ou uso indevido de poder investigativo.

Especialistas apontam que o caso deve impulsionar revisões em protocolos de interrogatório, reforçando garantias aos investigados, proibição de sugestões de versões e maior rigor na validação de confissões.


O que está em jogo

Mais do que uma responsabilização individual, o caso reacende o debate sobre falhas estruturais na investigação criminal no Brasil.
Episódios como o de Mairlon mostram como hipóteses mal conduzidas podem se tornar “verdades processuais” e custar décadas de liberdade a inocentes.Para a população de Novo Gama e para todo o país, o caso representa um alerta: Justiça não é apenas punir culpados — é garantir que inocentes não sejam condenados injustamente.
O desfecho dessa apuração pode se tornar um marco na correção de práticas investigativas e no fortalecimento da confiança no sistema judicial brasileiro.

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