A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (Pará), foi palco de um episódio de tensão e protesto protagonizado por manifestantes, incluindo povos originários e ativistas, que tentaram acessar a Zona Azul — área restrita às negociações oficiais da ONU.
O movimento reflete a crescente demanda dos povos indígenas por um papel central nas decisões climáticas globais, especialmente em um evento sediado no coração da Amazônia.
O Que Aconteceu?
A tentativa de invasão ocorreu na noite de terça-feira, 11 de novembro de 2025 (e reforçada na quarta, 12), quando um grupo de manifestantes, portando faixas, bandeiras e, em alguns casos, itens simbólicos como arcos e flechas, conseguiu ultrapassar barreiras de segurança e adentrar a estrutura temporária da conferência, conhecida como Zona Azul.
- Os manifestantes chegaram a subir em mesas e empunhar faixas de protesto, direcionando críticas, inclusive, ao governo brasileiro, com demandas como o fim da exploração de petróleo e a efetiva demarcação de terras indígenas.
- O tumulto levou ao reforço da segurança no local, com a atuação de seguranças da ONU e forças policiais.
- Embora a manifestação tenha sido breve, ela chamou a atenção global para as pautas emergenciais dos povos originários e de ativistas climáticos que consideram o andamento das negociações oficial insuficientes.
O Que é a COP30?
A COP30 (30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) é a maior e mais importante plataforma global para negociações intergovernamentais sobre a crise climática.
- Objetivo: Reunir os 198 países (Partes) que ratificaram a Convenção para avaliar o progresso coletivo na mitigação das mudanças climáticas e acelerar a adaptação e a transição para economias sustentáveis.
- Contexto: Sediada em Belém do Pará, o simbolismo de realizá-la na Amazônia coloca a preservação das florestas, a biodiversidade e o papel dos povos tradicionais em primeiro plano no debate global.
- Foco: Os temas centrais incluem a redução de emissões, o financiamento climático para países em desenvolvimento, a transição energética justa e a adaptação aos impactos do clima. O encontro busca estruturar a próxima década de implementação do Acordo de Paris com base no primeiro Balanço Global (GST-1).
O Potencial de Mudança Positiva 🏹
O movimento dos povos originários, mesmo com a ação de protesto na Zona Azul, tem um potencial significativo para mudar positivamente os rumos da COP30 e influenciar o Acordo de Paris. Suas pautas são fundamentais para uma solução climática eficaz:
1. Ciência Comprovada da Preservação
A principal contribuição é a comprovação de que os Territórios Indígenas (TIs) são as áreas mais preservadas do país e do mundo.
- Guardiões da Biodiversidade: Os povos indígenas protegem grande parte da biodiversidade global (82%, segundo algumas estimativas). Sua cosmologia e modo de vida promovem uma relação de proteção e cuidado com o território, o que se traduz em baixíssimas taxas de desmatamento.
- Demarcação como Política Climática: A demarcação, proteção e desintrusão das TIs são, na prática, uma das políticas mais eficazes para a contenção da crise climática, sendo defendidas como um item central nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do próprio movimento indígena.
2. Conhecimento Tradicional e Adaptação
Os povos originários oferecem soluções territoriais concretas para a adaptação e resiliência climática, baseadas em um conhecimento milenar do bioma.
- Protagonismo na Solução: Exigem que seus conhecimentos tradicionais sejam reconhecidos e utilizados ativamente nas estratégias de adaptação. O debate climático não pode ser puramente técnico-científico, mas deve incorporar a perspectiva de quem vive na floresta.
- Financiamento Direto: Demandam que o financiamento climático seja direcionado diretamente às suas organizações e projetos, garantindo autonomia para implementar suas soluções de proteção e manejo sustentável.
3. Justiça Climática e Direitos Humanos
A presença e o protesto dos povos originários na COP30 forçam o debate sobre a Justiça Climática, sublinhando que a crise é indissociável da violação de direitos humanos e do racismo ambiental.
- Ao exigir o fim da exploração de combustíveis fósseis e a proteção de suas lideranças (muitas vezes ameaçadas e mortas por defenderem seus territórios), eles pressionam os países a adotarem uma transição energética justa e a reconhecerem a reparação histórica devida às comunidades impactadas.
Em resumo, a mobilização na COP30 serve como um lembrete incisivo para os líderes globais de que a solução climática deve ter os povos originários como protagonistas e a demarcação de suas terras como uma prioridade inegociável.













