Francisco Mairlon Barros Aguiar, natural do bairro Pedregal, em Novo Gama (GO), recuperou sua liberdade nesta quarta-feira (15), após decisão unânime do STJ que anulou sua condenação no caso do chamado “Crime da 113 Sul”. Ele deixara o presídio da Papuda, em Brasília, pouco depois da meia-noite, após permanecer detido por quase quinze anos.
O crime ocorreu em 2009, quando o casal José Guilherme Villela e Maria Villela, além da funcionária Francisca Nascimento, foram brutalmente assassinados em seu apartamento no Setor 113 Sul. Mairlon foi condenado inicialmente a 55 anos de prisão, pena reduzida para 47 anos em instâncias inferiores, por supostamente participar das execuções. Ele foi detido em 2010, aos 22 anos, e passou toda a sua juventude na prisão.
Quando teve a soltura autorizada — por volta das 0h20 —, ele deixou a Papuda em meio a forte emoção familiar, sob escolta de advogados. Já na saída, fez uma parada simbólica em sua cidade natal: dirigiu-se à Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, no Novo Gama, onde permaneceu por cerca de três minutos rezando junto à grade de entrada da igreja. Foi um momento de fé, gratidão e reflexão — ele agradeceu a Deus, expressou alegria por retomar a liberdade e pediu perdão pelos anos de injustiça.
Em seguida, Mairlon seguiu para o bairro Pedregal, onde foi recebido por familiares. Ao chegar em casa, abraçou parentes, telefonou para amigos e para sua mãe, que reside no Ceará, visivelmente emocionado. Em entrevista à imprensa, disse estar “sem acreditar” e definiu aquele dia como “o mais feliz” de sua vida. Agradeceu aos que “não desistiram” dele, especialmente à ONG Innocence Project, que atuou na revisão de seu processo.
A decisão do STJ foi clara: os ministros anularam o processo desde a sua origem. Só restou ao tribunal determinar a soltura imediata de Mairlon. Os juízes entenderam que os depoimentos que o incriminavam foram dados sob pressão, sem confirmação em juízo, e que, isoladamente, não poderiam sustentar uma condenação tão grave. Foi destacada a necessidade de respeitar princípios constitucionais como ampla defesa e contraditório. Com isso, Francisco deixa de ser réu ou condenado.
A trajetória do caso mostra reviravoltas: os dois homens apontados como executores confessos — o porteiro do prédio, Leonardo Campos Alves, e seu sobrinho, Paulo Cardoso Santana — chegaram a alterar seus depoimentos em juízo, alegando coação policial nos interrogatórios iniciais. A defesa de Mairlon sustentava que ele fora citado apenas por meio desses depoimentos extrajudiciais, sem provas materiais como DNA, impressões digitais ou testemunhas confiáveis.
A anulação do processo e a libertação de Mairlon reacendem debates importantes sobre o funcionamento do sistema judiciário, o uso de provas obtidas sob coerção e os limites da justiça penal no Brasil. Para muitos, a situação simboliza uma falha histórica que custou uma vida — ou melhor, 15 anos de vida roubada.
Em Novo Gama, moradores acompanham com atenção esse caso que marcou um filho da cidade. Sua chegada, oração e reencontro com a família serão lembrados como momento de prova de fé, de espera e de superação.













